quinta-feira, 19 de julho de 2012

A questão da mulher na II Internacional



Escrito por Cecília Toledo *. Posted in MULHERES
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“A emancipação da mulher, sua igualdade de condição com o homem é e continua sendo impossível enquanto a mulher permaneça excluída do trabalho social produtivo e deva limitar-se ao trabalho privado doméstico... A libertação da mulher tem como condição primeira a incorporação de todo o sexo feminino na atividade pública”. (Engels, A origem da família, da propriedade privada e do Estado)

No entanto, até meados do século XIX, essa concepção de que a mulher tem que ficar em casa permaneceu quase inalterada. Mas a realidade outra vez se mostrou mais forte: apesar de toda a ideologia, a mulher trabalhava porque precisava sobreviver.
Se a I Internacional significou a conquista da vanguarda proletária para o marxismo, a II Internacional ganhou milhões de trabalhadores para as suas concepções. Foi a Internacional mais característica da era reformista, pois foi o período em que mais se arrancaram concessões, como férias, aumentos salariais, legislação social e trabalhista, entre outras. Em relação à questão da mulher, a luta por direitos democráticos - como igualdade política, direito de filiação a partidos e direito de voto - foi a que mais agitou a II Internacional.
Iniciada nos Estados Unidos, a luta sufragista foi a primeira luta feminista internacionalista, pois envolveu mulheres de vários países do mundo e incorporou os métodos tradicionais de luta da classe trabalhadora, como passeatas massivas, assembleias, greves de fome e enfrentamentos brutais com a polícia, nos quais muitas ativistas foram presas e assassinadas.
No campo socialista, a luta sufragista foi dirigida pela II Internacional, dividida entre reformistas, que defendiam o direito de voto apenas para os homens (eles achavam que as mulheres votariam nos partidos católicos reacionários), e marxistas, defensores do voto para todos. A dirigente política marxista mais importante da II Internacional e também da III foi Clara Zetkin, membro do SPD (Partido Social-Democrata Alemão). No Congresso de Stuttgart, em 1907, ela defendeu a posição dos marxistas, que saiu vencedora. E a Internacional Socialista se lançou em uma campanha internacional pelo sufrágio feminino, com mobilizações em diversos países.
O partido mais importante da II Internacional era o SPD. Em 1891, ano em que a ala esquerda conseguiu aprovar um programa basicamente marxista, o partido passou a exigir direitos políticos para todos, independentemente do sexo, e a abolição de todas as leis que discriminavam a mulher.
Na década de 1890, o SPD se concentrou, em primeiro lugar, na organização sindical das mulheres, e obteve algumas conquistas importantes. Em 1896, por proposta de Clara Zetkin, o partido aprovou uma resolução para iniciar o desenvolvimento de organizações especiais para uma atividade política mais ampla entre as mulheres. Além de trabalhar pelos objetivos gerais do partido, concentraram-se em bandeiras feministas, como igualdade política, licença-maternidade, legislação de proteção para a mulher trabalhadora, educação e proteção para as crianças e educação política para as mulheres.
Até 1908, na maior parte da Alemanha as mulheres eram proibidas de se filiar a qualquer grupo político. Para burlar isso, o SPD organizou dezenas de “sociedades para a autoeducação das trabalhadoras”, organizações livres que estavam parcialmente fora dos limites do partido, mas estreitamente ligadas a ele. De 1900 em diante, organizaram-se conferências bianuais de mulheres socialistas para unificar esses grupos e dar-lhes uma direção.
Depois de 1908, as mulheres passaram a se filiar legalmente ao SPD e se integraram aos organismos do partido. Mas continuaram mantendo seu próprio jornal, Igualdade, dirigido por Clara Zetkin, que chegou a ter uma circulação de mais de 100 mil exemplares até 1912. Passaram a ter uma representação proporcional em todos os organismos permanentes do partido, e aquelas que eram membros dos organismos eram eleitas em reuniões de mulheres. Não que esse seja um modelo organizativo definitivo, mas demonstrou um esforço do SPD para superar os problemas colocados pela exigência de organizações independentes de mulheres e de um único partido revolucionário da classe operária, em cujo seio não existem cidadãos de segunda classe e onde todos os membros têm os mesmos direitos e obrigações.

Cecília Toledo é membro da Secretaria Internacional de Mulheres da LIT-QI

A violência contra a mulher é uma das formas mais cruéis de atentado aos direitos humanos