domingo, 12 de maio de 2019

A Arqueologia da minha escrita

A primeira vez que tentei escrever, era criança ainda. Abri um diário, e ali pus-me a contar as façanhas dos meus dias de escola, das brincadeiras de rua, das piculas, as brigas com as colegas de classe,, as impressões que as lições novas iam emprestando à minha mente, à minha alma. Nesse ínterim ocorreu fato inusitado, minha amiga me chamou pra me ensinar uma brincadeira que uma moça havia ensinado a ela. Deitamos na cama e ela me ensinou esfregar seu monte de vênus no meu.  Foi uma sensação maravilhosa, ainda me excita lembrar! Achei tão bom que escrevi no meu diário. Pra quê? Minha irmã mais velha encontrou meu diário, leu meu diário para minha mãe, minha mãe não sabia ler nem escrever. Eu jamais poderia entender, àquela altura, por que estava sendo tão humilhada, massacrada, discriminada. Falavam que eu era mulher macho, as expressões eram tão vulgares e rebaixantes que deu um bloqueio aqui em minha mente agora, o que acho até bom, que nem me lembro do que falavam. Só não contaram a meu pai. Mas, para não contar a meu pai, eu era chantageada. Ate o dia em que meu pai descobriu! Aí o bicho pegou geral!. Fui arrastada pelos cabelos até a casa da vizinha e lá, de joelhos, aos pés dos pai dela tive que contar que fazíamos ousadia. Foi horrível. Considero então que este é o primeiro bloqueio que meu ser escritora  enfrentou.
A segunda vez que tentei escrever, já estava na Universidade, cursava filosofia, andava lendo os clássicos da filosofia, participava da fundação de um grupo anarquista, e me meti a escrever poemas numa agenda dessas bonitas que eu tinha, dessas que a gente ganha dos bancos.  À noite, em casa, estudando, uma noite li para minha mãe e minha irmã alguns poemas que havia escrito.  Um dia qualquer saí pra trabalhar e quando voltei o cacete estava armado. Minha irmã e minha mãe, que gostaram muito dos meus poemas, pegaram minha agenda para ler, na minha ausência, sem minha autorização, e lá, no meio de meus poemas, eu escrevera que havia me descoberto homossexual. Eu nem soube me defender, de novo, nesse escândalo, e mais uma vez meu ser escritora  voltou para as profundezas do meu ser.
Vale lembrar que, entre a primeira tentativa e a segunda, há um histórico de abuso sexual, onde fiquei de ré, não de vítima., inclusive té os dias atuais.
Pela terceira vez tento retomar a escrita, como forma de narrar minha história, minhas impressões sobre a vida. A criação destes blogs há mais de vinte anos, vem se arrastando preguiçosamente, num dilema dentro da minha alma, sobre esta retomada. Penso que fazer esta exposição, já é uma grande vitória, pois não vai ter problema ninguém encontrar os escritos, eu mesma já os expus. Considero uma vitória. A vida começa agora

Nenhum comentário:

Postar um comentário

o seu comentário será publicado após receber confirmação.

A violência contra a mulher é uma das formas mais cruéis de atentado aos direitos humanos