sexta-feira, 10 de maio de 2019

Tributo à minha mãe, Dona Santa

Mãe, Saudades. Gostaria de ter te conhecido melhor, de ter te compreendido e te dado muito mais amor.
A minha mãe teve 18 filhos, que ela pariu. desses 18 que ela pariu, sem contar os abortos espontâneos, 9 ela viu morrer, de várias doenças ou em circunstâncias de pobreza que só Dona Santa poderia suportar.
Não sabia ler não, nem escrever. Foi criada por um padrinho que gostava muito dela. colocou-a na escola. A professora deu bolo na mão porque ela não acertava a tabuada, acho. Fez isso uns três dias seguidos. Aí o padrinho disse: Vai mais não Santa!
Desses 9 que vingaram, eu sou a penúltima, o que significa dizer que, quando eu nasci tinha irmão de 6, de 11, de 14, sei lá, de 21. Eles viveram em outras casas. outros bairros. Contam que uma das casas que moraram caiu assim que minha mãe e meu pai tiraram todos de dentro.
Eles sofreram muito. apanharam de relho, de fio. Eu quase não apanhei. Posso dizer que nasci rica, ali no Outeiro de São Sebastião, em Ilhéus.  Quando fiz 3 anos, meu pai mudou-se para uma casa que agora era dele,então agora ela tinha uma casa dela!
Não conheceu pai, Sua mãe a abandonou lá no sertão. Ah, minha mãe...
Então ele fez uma casa com pátio, varanda, e quintal. bordou tudo com lindos azulejos.Quase não brigavam. Ele nunca tocou a mão nela. è verdade. Mas chegava em casa 2 horas da manhã, com muitos amigos Conferentes, e a acordava, e a todos nós. Ela ia então serví-los, fazer tiragostos, lavar a louça, sendo que acordava as 5 da manhã, para cuidar de todos aqueles filhos e da casa.
Ela não sabia ler nem escrever, mas nessa casa deles, ele meteu estantes e encheu-as com uns mil livros pelo menos. Ele era um autodidata. Gostava de comprar coleções completas, capas de couro, 18 volumes, enciclopédias e autores da literatura nacional e Universal. Meu pai lia de Jorge Amado a Alexandre Dumas. Minha mãe enchia a casa com sua limpeza, seu asseio, sua organização. E sua dedicação. E sua vida, E sua vida, Toda a sua vida!
Ela não sabia ler nem escrever, Mas eu nunca tive uma professora de banca. Chegava da escola, tomava banho, almoçava, ela tirava a mesa e eu pegava minha pasta.
- Pega a caderneta. Primeiro vai estudar a lição, depois é que faz o dever.
Aí eu dizia a página do livro e ela ordenava: LEIA DEZ VEZES EM VOZ ALTA!
E eu lia as dez vezes. Quando eu terminava de ler, ela também já sabia a lição e ela mesma tomava. Aí eu podia ir fazer o dever, pois já sabia tudo que pudesse ser perguntado lá!
Quando eu estava na Faculdade, minha mãe ainda se sentava ao meu lado, até duas horas da manhã, cochilando, enquanto esperava eu terminar de estudar.
Tantas coisas boas eu teria pra contar. Durante muito tempo fiquei só remoendo mágoas e querendo colocar defeito no bem mais precioso de minha vida: minha mãe. Com isso, perdi muito de honrá-la e amá-la.. 
Dou esse testemunho aqui, para que muitos filhos rebeldes e ingratos se espelhem nessa minha saudade e autocrítica, e abracem e encham suas mães de amor, agora, enquanto elas estão vivas!
Mãe Santa, espero te reencontrar no coração e no pensamento de Deus.

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