domingo, 6 de maio de 2012

A MULHER

vivemos numa sociedade hipócrita, onde impera não o respeito mútuo, mas os interesses particulares; onde imperam a competição desumana criada pelo capitalismo e outros sistemas econômicos, onde as pessoas deixam de ser companheiras para serem concorrentes, disputam umas com as outras um privilégio qualquer, não importa o quanto cedem dos interesses coletivos em função de suas próprias ambições ocultas ou expostas, não importa, pois o que vale é a bajulação, a venalidade.  Todos induzidos a alimentar um sistema opressor, a fazer parte dele e defendê-lo, inclusive.
As mulheres sofrem aí grave desconforto e desvantagem pois nesse sistema patriarcal camuflado de moderno e contemporâneo, nesse sistema falocêntrico dominador gemem e morrem mulheres no mundo inteiro, de qualquer religião, de qualquer classe social, de qualquer idade, todos os dias, a cada minuto, vítimas da violência doméstica e da violência contra as mulheres.  Violência psicológica, agredida, amargurada, refém de seus filhos e de sua situação de dependência econômica; violência patrimonial, vendo tudo que construiu e constrói é destruído pelo companheiro; violência física, muitas vezes agredida e machucada; violência moral, com calúnias, injúrias, difamação.
Mulheres sofrem desde criança, desde meninas.  Tem lugares em que as meninas já nascem sendo mutiladas.  Tem nação que mata suas mulheres a pedradas como pena de morte.  Existem povos onde elas estão obrigadas a usar burca ou véu.  Vivemos numa sociedade em que está liberado toda sorte de indumentária, mas as mulheres não conseguem andar em segurança e liberdade, são incomodadas , muitas vezes, por causa do que vestem.
Nós não temos que disputar nada nesse mundo criado pelos homens.  Nós queremos outro mundo, outra sociedade, menos amarras, menos prisões e grilhões, mais liberdade, mais desprendimento, mais amor, mais solidariedade.
Simone de Beauvoir diz o seguinte:

As mulheres — salvo em certos congressos que permanecem manifestaçõesabstratas — não dizem "nós". Os homens dizem "asmulheres" e elas usam essas palavras para se designarem asi mesmas: mas não se põem autenticamente como Sujeito. Osproletários fizeram a revolução na Rússia, os negros no Haiti,os indo-chineses bateram-se na Indo-China: a ação das mulheresnunca passou de uma agitação simbólica; só ganharam o queos homens concordaram em lhes conceder; elas nada tomaram;elas receberam (Cf. Segunda Parte, § 5). Isso porque não têmos meios concretos de se reunir em uma unidade que se afirmariaem se opondo. Não têm passado, não têm história, nem religiãoprópria; não têm, como os proletários, uma solidariedade detrabalho e interesses; não há sequer entre elas essa promiscuidadeespacial que faz dos negros dos E.U.A., dos judeus dos guetos,dos operários de Saint-Denis ou das fábricas Renault uma comunidade.Vivem dispersas entre os homens, ligadas pelo habitat,pelo trabalho, pelos interesses econômicos, pela condição sociala certos homens — pai ou marido — mais estreitamente doque as outras mulheres. Burguesas, são solidárias dos burguesese não das mulheres proletárias; brancas, dos homens brancos enão das mulheres pretas. O proletariado poderia propor-se otrucidamento da classe dirigente; um judeu, um negro fanáticopoderiam sonhar com possuir o segredo da bomba atômica econstituir uma humanidade inteiramente judaica ou inteiramentenegra: mas mesmo em sonho a mulher não pode exterminar oshomens. O laço que a une a seus opressores não é comparávela nenhum outro. A divisão dos sexos é, com efeito, um dadobiológico e não um momento da história humana.
(O segundo sexo, fatos e mitos. Difusao Européia do livro).

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A violência contra a mulher é uma das formas mais cruéis de atentado aos direitos humanos